sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Identidade - Milan Kundera

“Eu tenho duas caras”, afirma Chantal. Duas caras. Todos temos, não é? Duas, três ou quantas forem necessárias. Duas caras mas uma identidade; algo próprio, seja de Chantal seja de qualquer um de nós que nunca se diluirá. É por isso que um casamento, ou uma relação amorosa, por mais profunda que seja, sempre há-de esbarrar na verdadeira natureza humana. A identidade de um ser humano é composta de múltiplas facetas e só a anulação total da personalidade permitiria essa diluição que, ao que dizem, tornaria um casamento feliz. Talvez fosse esse caminho que, neste livro, Jean-Marc procurou: o da anulação da personalidade em nome de uma causa – o amor. Falhou. Falhou como Chantal ou como qualquer ser humano que não consegue (porque não pode) diluir-se nisso a que chamam amor monogâmico.
A monogamia é uma imposição social e histórica; perante ela só há um de dois caminhos: a adaptação ou a revolta. Jean Marc adaptou-se. Pelo menos tentou; ele não se inquieta; apenas se acomoda, passivamente. Acabará mal.
Ela, Chantal, necessita de desafios; necessita de ser ela; de mostrar as várias faces e assumi-las. Acabará mal, também.
O ser humano anseia permanentemente pela liberdade, pela realização do “eu”. No entanto, o amor é algo que conduz a um beco sem saída, a uma quimera que é uma espécie de liberdade a dois. Impossível. Por isso o amor é a negação da liberdade; é a despersonalização.
A verdadeira natureza humana é a do sonho: do sonho libertador, da atracção fatal da liberdade. É entre estes dois pólos (amor e liberdade) que vagueiam Chantal e Jean Marc. Kundera coloca cada um deles num dos pólos. Qual dos dois triunfa? Talvez todos os triunfos sejam provisórios e a vida humana não seja mais que uma viagem hesitante e constante entre os dois.
Trata-se portanto de um livro extremamente simples, com uma mensagem muito clara. Sem a profundidade das sua obras-primas (O Livro do Riso e do Esquecimento e A Insustentável Leveza do Ser) mas com traços de génio na forma simples e directa com que consegue prender o leitor.
Publicado no Destante, no âmbito da Leitura Conjunta.
Avaliação Pessoal: 8/10

2 comentários:

Paula disse...

Este livro de Milan Kundera soube-me a pouco..-
Gostei de o ler, mas não achei a escrita genial :)

Unknown disse...

Tendo em conta os outros dois, os mais famosos, este livro não tem aquele traço de génio que tornou Kundera uma referência...