quinta-feira, 30 de junho de 2011

Enciclopédia da Estória Universal - Afonso Cruz

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Enciclopédia da Estória Universal é um livro que alguns, mais distraídos ou levianos poderão considerar humorístico. Nada disso. Trata-se de uma obra de profundo alcance filosófico.
Seguem-se alguns exemplos de assuntos muito sérios:
Por exemplo, no domínio da exegese de um conto infantil e respectivas interpretações: a tese segundo a qual o beijo num sapo envolve uma prática condenada pela Inquisição; tal beijo permite o contacto com uma substância alucinogéna presente na pele do anfíbio que, inclusivamente, pode fazer alguém “ver” um príncipe. Segue-se a respectiva refutação, segunda a qual o sapo representa o demónio. No conto infantil, trata-se de um demónio carente; ele só precisa de amor; de um terno beijo…
No domínio sempre delicado e escorregadio da Teologia, analisa-se a hipótese, já debatida e testemunhada pela historiografia, de substituir o cálice de vinho da missa por uma caneca de cerveja. Uma simples caneca de cerveja poderia substituir o vinho com evidentes vantagens, porque substituiria também o pão, o que é cientificamente correcto uma vez que é feita de cereal; é uma espécie de pão líquido. Mas o valor transcendental da cerveja advém de nascer de um cereal que apodrece, fermentando. Assim, a cerveja é a vida que nasce da morte!
No domínio, sempre tão polémico quanto actual da análise sociológica, abre-se a polémica entre dois grandes pensadores: Umit Arslan, que era muito alto, defendia que “o que está em cima é como o que está em baixo”, enquanto Ari Caldeira, pelo contrário, afirma: “O que está em cima é sempre o rico e o que está em baixo é sempre o pobre.”
Mas não se pense que este livro é apenas feito de debates e polémicas existenciais. Não! Há também sabedoria para a vida. Pode mesmo ser um livro de auto ajuda tanto para o filósofo deprimido como para o afinador de pianos esquizo. Senão atente-se nesta máxima: “Para o homem branco, Deus existe mais aos domingos”. Ou esta outra: “Um homem infinito é aquele que não tem a parte de fora. Da mesma forma que uma bebedeira infinita não provoca ressaca.”
Seria obviamente exagerado e ridículo se eu dissesse que este livro é o primeiro passo para a criação de uma nova cosmogonia. Digo apenas que este livro é o primeiro passo para a construção de uma nova cosmogonia.
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Woody Allen ressuscitado antes de morrer seria um óptimo subtítulo para este tratado.
Avaliação Pessoal: 9/10

2 comentários:

susemad disse...

Ando atrás deste livro desde o ano passado e ainda não o consegui apanhar!! Deve andar a fugir de mim...

Unknown disse...

Eu comprei na Fnac cá de Braga e ficou lá um ou dois exemplares. Se pedires numa loja fnac aí da tua terra, eles pedem para enviar de onde ele exista.
beijinhos