segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Milagre de São Francisco - John Steinbeck


Este livro é uma pérola. 


Numa edição muito pouco divulgada, saída há uns anos, restou nas profundezas mais remotas das minhas estantes este livrinho pequeno, pobre a abandonado. Em boa hora me veio parar às mãos porque foi uma das melhores surpresas dos últimos tempos. É um livro para sorrir, rir e deixar correr um rio de emoções.
Evidentemente, Jonh Steinbeck é um dos melhores escritores de todos os tempos. No entanto, a sua genialidade é reconhecida, acima de tudo, pela magnífica obra-prima que é As Vinhas da Ira e, um pouco mais em segundo plano, A Leste do Paraíso e Ratos e Homens. O que eu não imaginava sequer é que este livro, que foi o seu primeiro sucesso fosse uma obra tão bela. Tortilla Flatt no título original e “Boêmios Errantes” na tradução brasileira, é um livro singelo, simples e de uma beleza extraordinária, tanto ao nível do estilo como, principalmente, da mensagem que transmite.
É a história de um grupo de amigos, sem eira nem beira, heróis errantes que, viciados no vinho, procuram viver sem amarras, sem a escravatura do trabalho, do dinheiro ou do amor e de todas as outras coisas que nos aprisionam a todos nós, homens “normais” do mundo dito civilizado. Eles são vagabundos miseráveis aos olhos dos outros mas donos dos seus destinos.
Danny e os seus amigos são livres; nada os oprime; nada podem perder porque nada têm.
Acima de tudo, este livro é um verdadeiro hino à amizade. Vivem de pequenos roubos, que sempre se justificam moralmente, pois a desigualdade deixa sempre uma pequena margem para que se possa fazer justiça ao mesmo tempo que se garante a sobrevivência. Além disso há a solidariedade, essa palavra mágica que só os pobres e oprimidos entendem.
Steinbeck escreveu este livro em 1935, época em que o capitalismo esbarrava na triste realidade da grande depressão e as injustiças vinham todas ao de cima. Estes amigos de Danny contrariam toda a lógica do sistema capitalista: eles recusam o dinheiro (que só serve para comprar vinho e, mesmo assim, trocam-no muitas vezes por outros bens) e recusam mesmo o conceito universal de trabalho “honesto”. Esta conceção do trabalho foi sem dúvida buscada por Steinbeck nas ideias socialistas e encara o trabalho remunerado como uma forma de escravização ou alienação do ser humano. É por isso que os amigos de Danny só se realizam na liberdade de não trabalhar, não ganhar dinheiro, não pactuar com os ideais da sociedade burguesa.
É, enfim, um livro que se lê com um tremendo envolvimento emocional. É um livro que emociona e leva à lágrima fácil de quem se entregar de corpo e alma ao enredo, à vida destes homens aparentemente miseráveis mas que compreendem como ninguém o valor da vida humana, da dignidade e da amizade.
Um livro belíssimo.

domingo, 29 de abril de 2012

Clube de Leitura de Braga - 2º encontro

No próximo sábado, 5 de Maio, pelas 15 horas na Bertrand de Braga da Avenida da Liberdade, será discutido o livro de Doris Lessing, a Fenda.
Como sempre, a participação é livre e gratuita.
Comparece.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Os Crimes da Rua Morgue - Edgar Allan Poe



Este conto de Edgar Allan Poe é um marco histórico na literatura ocidental.
A estória de dois brutais assassinatos é narrada em tons de mistério, terror e fantástico. Escrito em 1841, é a primeira narrativa protagonizada pelo inspetor Dupin, consagrado na história da literatura como o principal percursor de Sherlock Holmes.
Edgar A. Poe é considerado o pai da literatura policial mas é muito mais que isso; é um dos melhores prosadores de sempre no que à ficção diz respeito. E este conto é crucial na afirmação da sua qualidade literária.
É difícil ler este conto sem nos virem à memória as narrativas de Conan Doyle e Agatha Christie. Mas também toda a literatura fantástica que hoje está tão na moda parece ter sido lançada por Poe; a intervenção de uma personagem infra humana, capaz de cometer atos “super humanos” é o principal elemento fantástico do conto. Em terceiro lugar, o conto é também pioneiro no que toca à ficção de terror; a forma como os cadáveres são encontrados, descritos de forma crua e fria, gerando no leitor uma sensação de terror nunca antes vista na literatura ocidental.
É por tudo isto que Poe é um pioneiro, um dos nomes maiores da literatura mundial. 

terça-feira, 24 de abril de 2012

ABRIL é esperança!


Não esqueçamos nunca que Abril é sinónimo de esperança!
Abril com maiúscula... Abril, o mês da primavera não cabe nas minúsculas de um qualquer acordo ortográfico.
Para os que teimam em fazer esquecer o que é inesquecível, para os saudosistas de um Portugal feito de ignorância, medo e miséria, aqui deixo um excerto de um poema do maior poeta de todos os tempos. Um poeta, também ele, da liberdade e da esperança!

"No entanto, há gente que acredita numa mudança, 
que tem posto em prática a mudança, 
que tem feito triunfar a mudança, 
que tem feito florescer a mudança 
Caramba! 
A primavera é inexorável! "
Pablo Neruda

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Polikuchka - Leon Tolstoi

Nota prévia: há uma edição recente que apresenta este livro com o título “Polikuchka, o Enforcado”. A edição que usei tem apenas o nome do personagem no título. Trata-se do número 30 da velhinha e saudosa coleção de Livros de Bolso da Europa América.
Bastava o facto de ter sido escrito por Tolstoi para que este livro merecesse ser lido com atenção. Se acrescentarmos o facto de ter sido escrito poucos meses antes do monumental Guerra e Paz, então esses motivos duplicam. Mas há mais; este livro, pequeno e simples, é um testemunho inequívoco da sensibilidade de Tolstoi para os problemas sociais. Ele ajuda-nos a compreender o próprio Guerra e Paz e permite-nos uma compreensão mais profunda da opinião de Tolstoi face à realidade socio-económica do seu tempo.
Recorde-se que a servidão tinha sido abolida pelo czar (salvo erro Alexandre III) mas essa decisão não era respeitada: os camponeses eram tratados quase como escravos, podendo mesmo ser vendidos juntamente com a terra.
As condições de vida destes servos eram, pois, miseráveis. Polikuchka é um servo que trabalha para uma grande proprietária que representa aqui aquele tipo de pessoa poderosa mas de bom coração que Tolstoi recuperaria em Guerra e Paz e que demonstra essa outra faceta da sua personalidade: uma crença genuína numa certa bondade humana, independente da condição económica da pessoa. Mas, mau grado o bom coração da Senhora, Polikuchka é um homem infeliz. Ele é vítima desse cancro da sociedade russa que é e sempre foi o vodka. Entre os camponeses, o álcool é uma fuga à servidão, à desumanidade do sistema social; assim, o pobre que não sucumbe perante a injustiça, acaba por sucumbir perante o álcool.
Mas, num determinado momento da sua vida, Polikuchka redime-se. Ele torna-se um homem honesto e trabalhador. No entanto, algo o trairá: o destino. Como se tivesse de haver sempre uma condenação: se não fosse o álcool era a guerra (para onde os camponeses eram recrutados), se não fosse a guerra era a fome, se não fosse nada disto era a fatalidade do destino.
E Polikuchka morre na desgraça. Como qualquer servo.
  

terça-feira, 17 de abril de 2012

A Cidade dos Prodígios - Eduardo Mendoza


Foi o primeiro sucesso deste excelente escritor catalão e foi também a primeira leitura que dele fiz. Devo dizer que me impressionou. E a literatura espanhola cada vez me entusiasma mais.
O enredo acompanha a cidade de Barcelona entre as duas  Exposições Universais aí realizadas: de 1888 e 1929. O protagonista desta estória, Onofre Bouvila, é uma espécie de anti-herói que sobrevive e depois enriquece numa espécie de vida em “contra mão”: a sua sorte é o azar dos outros. Toda a cidade de Barcelona acaba por ser vista também nessa perspetiva: uma cidade que enriqueceu com base na desgraça alheia, no sucesso de uma casta de patifes como Onofre Bouvila. A própria Grande Guerra ou a ditadura de Primo de Rivera são vistas em Barcelona como oportunidades de enriquecimento.
Ao longo do livro vamos assistindo também à afirmação do socialismo e do anarquismo como teorias da moda. Os malandrins de Barcelona, mais do que os operários e oprimidos, são o meio em que essas ideias ganham assento. Ao longo do livro vamos sorrindo com um sentido de humor alucinante: do sorriso discreto à gargalhada desabrida vão dois passos, num estilo original e muito fluido.
Aliás, é incrível a capacidade de Mendoza para fazer “parêntesis” de duas ou três páginas sem que o leitor perca o fio à meada.
A análise do contexto históricu é excelente: dá-se conta da origem da moderna Barcelona a partir da exposição universal de 1888, num olhar irónico sobre o sucesso de toda a sorte de malandros e rufiões; eles podem ser o coração de uma cidade, mais do que os políticos.
O início do século XX é sempre uma época de eleição para qualquer escritor tais são as novidades; uma das mais espetaculares é o cinema, que Onofre ajudou a levar até Barcelona.
Em 1923 dá-se o golpe fascista de Primo de Rivera; a ameaça do extremismo catalão foi uma das causas da insaturação da ditadura; é a cidade condal no centro da contestação.
Esta faceta rebelde da Catalunha é o âmago da obra: “Nós, os pobres, só temos uma alternativa, dizia de si para si, a honestidade e a humilhação ou a maldade e o remorso. Isto era o que pensava o homem mais rico de Espanha” (pg. 292)…
A Barcelona moderna surge com o genial Gaudi. No entanto, mesmo neste domínio, Mendoza não deixa de pintar a realidade com tons surreais, apresentando-nos o famoso arquiteto num estado de decadência e decrepitude.
Mas é a aviação que vem fornecer a vertigem dos novos tempos…
A exposição universal de 1929 era a oportunidade de afirmação de Primo de Rivera. Mas foi, pelo contrário um sinal de falência do sistema capitalista, quatro meses depois do crash da bolsa de Nova Iorque.
A Questão fundamental é esta: vale a pena lutar pela glória? Vale a pena pagar preços tão altos? A questão é posta por Onofre mas podia ter sido posta pela cidade… implícita nesta estória está uma crítica mordaz ao individualismo burgues.
Ao individualismo, Mendoza contrapõe a cidade; um povo que lutou sempre contra a hegemonia da capital e fez da Catalunha um estado autónomo; não se trata da afirmação da cidade em termos económicos nem urbanísticos, mas da cidade como comunidade, com a sua identidade rebelde mas inquebrantável.

sábado, 14 de abril de 2012

Gaibéus - Alves Redol


É um prazer enorme reler um livro destes, quase trinta anos depois de o ter feito pela primeira vez.
É isto o neo-realismo, estilo do qual Gaibéus é um dos maiores estandartes. Numa palavra, neo-realismo é a verdade. Nua e crua. As condições de vida e os dramas dos mais pobres, de uma população esquecida pelo poder político da época, que, aparentemente, se limitava a sobreviver. E digo “aparentemente” porque Gaibéus mostra-nos de forma clara uma alma enorme que ultrapassa as limitações da vida e das condições materiais da existência.
Alves Redol foi, sem dúvida, um dos maiores escritores portugueses do século XX; a sua escrita é límpida, clara, visual. A sua escrita foi uma voz de revolta, uma voz de denúncia mas também e acima de tudo, uma voz de solidariedade. A criação artística, brilhante aliás, aqui não é mais do que uma arma ao serviço da justiça social pela qual tanto lutaram os grandes escritores deste tempo (meados do século XX, em plena ditadura salazarista). Muito se tem escrito sobre as intenções políticas destes escritores (Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Carlos de Oliveira, etc.). No entanto, há aqui algo mais nobre do que a política e até do que a própria arte: a solidariedade. Se Redol foi comunista isso é o que menos interessa: foi um enorme escritor e um enorme ser humano.
Neste livro descrevem-se com invulgar sentimento as vidas dos camponeses sazonais nas lezírias, vítimas de exploração por parte dos grandes latifundiários da região; no entanto, a mensagem de Redol não vai apenas no sentido de acusar esses exploradores; ele faz nesta obra um apelo à única via possível para resolver o problema: a união entre os trabalhadores, tantas vezes impedida pelas rivalidades entre grupos. A união faz a força; a solidariedade é indispensável para combater a exploração por essa desunião convém a quem vive da exploração.
Fácil é concluir que um livro destes só pode ter sido uma bandeira de todos aqueles que sofreram com a ditadura. Independentemente da política partidária; isso pouco interessa. Gaibéus foi um dos livros mais importantes do século XX português.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Corpo de Mentiras - David Ignatius


O Corpo de Mentiras não é mais um livro de espionagem. Não deixa de ser verdade que se enreda nos habituais clichés: o triângulo amoroso entre o agente secreto, a esposa ciumenta e a amante boazinha e irresistível, os mauzões e os bonzinhos, o final apoteótico, os terríveis acidentes que atingem toda a gente exceto o herói, etc.
Mas não é um mau livro. Longe disso; a escrita é fácil, atrativa, muito agradável e Ignatius tem aquele raro dom de transformar as palavras em imagens. Não é por acaso que este livro foi adaptado ao cinema logo que foi publicado (ver aqui o filme no IMBD). 
No entanto, há algo mais neste enredo: a abordagem dos métodos usados pelos serviços secretos norte americanos e, especificamente, a estratégia de provocar atos terroristas no seu próprio terreno com a finalidade acusar outras nações ou grupos.
Houve mesmo muita gente que encarou seriamente a hipótese de o próprio 11 de Setembro ter sido provocado por americanos. David Ignatius apresenta-nos aqui um enredo em que tal estratégia é usada e explica-nos como é possível manipular totalmente a informação e a própria opinião pública; aqui tudo é controlado, inclusive a própria vida pessoal dos personagens; este é o segundo aspeto em que o livro nos traz algo de novo: a vida humana é completamente desprezada em função dos interesses do país.
Por detrás desta perspetiva crítica está latente um certo desencanto perante aos sinuosos processos seguidos pelos serviços secretos americanos. David Ignatius é jornalista há mais de vinte anos e quase sempre dedicado a questões de política internacional Possivelmente este emaranhado de processos pouco éticos constituem aquilo que Ignatius nunca pode revelar enquanto jornalista.
O desencanto de Ignatius em relação ao seu país está bem patente neste trecho do livro (fala o chefe dos serviços secretos jordano): “Graças a Deus que ainda têm amigos. Apesar de não saber bem porque é que ainda há alguém disposto a ajudar-vos, para lá do facto de serem tão ricos.”
Está de parabéns a Bertrand por esta edição. Um livro que é mais um exame de consciência sobre a hipocrisia americana.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

1Q84 vol.2 - Haruki Murakami


Continua a saga de Aomame e Tengo, em vidas separadas que se tocam a espaços, mas ambos vivendo num mundo paralelo, num ano de 1Q84 onde duas luas pairam sobre as suas vidas.
A vida, estranha, encantadoramente misteriosa destes personagens evolui neste segundo volume para dimensões mais místicas, numa atmosfera onde a fantasia vai cada vez mais predominando sobre a realidade concreta.
Portanto, neste volume parece que Murakami levantou mesmo os pés do chão e encaminhou a narrativa para o mistério e a fantasia.
O simbolismo de determinadas situações torna-se cada vez mais fascinante; por exemplo, a forma como a lua é abordada como tema simbólico: a lua foi sempre um alvo de fascínio e uma espécie de enigma permanente para a humanidade e assume nesta obra um papel fulcral como imagem da mudança e do mistério.
No entanto, as implicações das mensagens de Murakami são bem concretas; não se trata de um afastamento total do concreto mas apenas de um derivar para a metáfora que, por vezes, torna a leitura mais trabalhosa mas ao mesmo tempo mais bela. O trabalho de descodificação por parte do leitor faz deste segundo volume um livro menos lúdico, menos divertido e muito mais sério, tais são as implicações dos temas que aborda.
Por exemplo, para ir direto ao fulcro do livro: o mundo alternativo em que vivem Tengo e Aomame parece ser uma manifestação do fracasso dos paradigmas clássicos: nem o mundo capitalista nem o socialismo evitaram a cinzentismo e o sofrimento em que vive a humanidade. 1Q84 assume assim a dimensão escatológica do inevitável referente: 1984, o famoso romance de George Orwell. AO longo da obra vai crescendo uma atmosfera de nostalgia e até mesmo de desencanto perante o mundo; uma sensação de inevitabilidade da tristeza. É este desencanto que preside à necessidade de criação de mundos alternativos, a tal ponto que chega a ser impossível distinguir o real do imaginário (“-O que significa real? Perguntou Fuka-Eri.” – pág. 241).

quarta-feira, 4 de abril de 2012

SALGUEIRO MAIA - sempre - um HERÓI

Faz hoje 20 anos que morreu Salgueiro Maia. Por isso, hoje não escrevo sobre livros. Hoje escrevo sobre um homem que foi um livro; um livro aberto sobre democracia; sobre liberdade; sobre cidadania.
É com estes heróis que se faz a história de um povo; não de uma elite, de um qualquer Conselho da Revolução, ou de governos milagreiros e manhosos. História do POVO. História dos que sofreram, dos que atravessaram a fome da ditadura e a miséria da ignorância salazarenta!
História com H maiúsculo! História de gente humilde que se resumiu neste rosto, o rosto da esperança que hoje alguns teimam em destruir:

"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegamos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegamos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!" (Salgueiro Maia)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A melhor leitura de Março - 1Q84 Vol. 1

Dos nove livros lidos em Março, o destaque vai para o grande mestre japonês: Murakami, com o primeiro volume de 1Q84


Uma das maiores qualidades deste escritor é a capacidade de criar enigmas. Elementos dispersos, misturados no enredo, dão um constante tom de suspense à obra, como se fossem os grãos de milho que, no conto infantil, indicam o caminho para casa. Em Murakami, esses grãos indicam o caminho do mistério; mas são colocados com esmero, com mil cuidados ao longo da narrativa para que o prazer de ler atinja os píncaros.
Tais enigmas emergem do enredo de uma forma tão natural que o leitor os integra na realidade da narrativa, como se a fantasia se tornasse real, como se o surreal se tornasse concreto. O mistério passa assim a ser abordado com uma naturalidade tal que a mente do leitor vai construindo um todo onde deixa de ser possível desligar a fantasia da realidade. É este o mundo misterioso e encantado de Murakami.