domingo, 27 de janeiro de 2013

O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel - Mário de Carvalho




Sinopse: Uma opereta com ecos de tragédia
 Um canhão assombrando uma cidade. Um patíbulo armado de noite. Um istmo que conduz a uma cratera. Uma diligência cercada por cães selvagens. Nuvens de grifos imundos sobre o mar. A batalha sangrenta dos pescadores. Uma galeria de anarquistas, mais nobres que plebeus. A casa de Madame Ricciarda. A casa de Madame Musette. Dois jesuítas. Um padre que toca violoncelo. Um navio que não chega mais. Uma opereta com ecos de tragédia. Sol, luz, névoa e lua. Oito mulheres, amores duplos, triplos e quádruplos. De como a vida engana a morte. Ou o inverso. Porque há em gente pacata uma apetência de morte tão grande? Porque é que nunca se regressa daquela viagem? Porque é que aquele navio não chega? Porque é que aquele canhão jamais dispara?

Comentário:
 Mais uma obra brilhante de Mário de Carvalho. Fabulosa. Imperdível.
É constituída por dois contos (ou dois pequenos romances), aparentemente independentes, mas com alguns pontos em comum: são duas claras sátiras ao poder político. Ambas se passam num tempo e num espaço geográfico indeterminados. Diríamos que podiam desenrolar-se no século XIX no leste europeu ou no século XIX em Portugal. De facto, à medida que avançamos na leitura vamos encontrando a nossa vida ali escrita, com palavras simples e belas como só Mário de Carvalho sabe escrever.
Tal como em todas as suas obras, também aqui o autor exprime-se de uma forma que lhe é bem, peculiar, com uma notável economia narrativa; se nos distraímos um pouco, imediatamente perdemos o fio à meada tal é a ausência de descrições inúteis ou devaneios, tão queridos de determinados escritores portugueses.
O primeiro destes contos – O Varandim – é uma belíssima sátira à natureza do poder político, populista, elitista e por natureza socialmente injusto. Em jeito de tragicomédia, este conto revela bem como a pena de Mário de Carvalho está mais acintosa que nunca, mas sempre subtil e esmerada. Cada palavra parece ser meticulosamente escolhida e cada frase cirurgicamente construída.
“O Varandim” faz-nos sorrir pela forma está escrito mas também porque, paulatinamente, nos vamos revendo naquelas páginas. Alguém tem de ser condenado para que o povo saiba e se penitencie. E, acima de tudo, para que todos tenham medo. Assim é no misterioso grão-ducado da Svidânia, assim é por todo o lado em todos os passados e presentes. O grão-duque e o primeiro-ministro, afinal, não são estranhos. Eles andam por aí…
Com ou sem execuções públicas, a perversão do poder está por todo o lado… até que um dia algo de extraordinário acontece aos varandins do poder.
No segundo conto há um jovem notário filho de um burguês falido que migra para a cidade de Carvangel. Uma mulher jovem, filha de um alfaiate falido, procura casamento. Várias mulheres procuram casamento. Vários homens sonham enquanto vivem de mãos nos bolsos vazios. E uma cidade inteira espera pelo navio Maria Speranza que os leve a todos.
Todos sonham com o misterioso navio… entretanto os pescadores matam-se uns aos outros; as mulheres digladiam-se pelos maridos; o assustador canhão da cidade nunca dispara; as espingardas matam grifos e abutres; e o navio que trada…
Carvangel é esta terra de onde todos sonham fugir…
Impossível resistir a Mário de Carvalho…

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Os Lusíadas para gente nova - Vasco Graça Moura

Sinopse:
Um livro admirável em que Vasco Graça Moura, um dos mais destacados poetas portugueses, dialoga, em verso, com o texto camoniano, iluminando, esclarecendo e exaltando o canto originário. Através de um perfeito equilíbrio entre a reescrita modernizadora e a fidelidade à estrutura e aos significados da epopeia de Camões, Vasco Graça Moura assina uma obra indispensável a professores, educadores e jovens, para a compreensão fluída, correta e abrangente de Os Lusíadas pelas novas gerações.

Comentário:
Antes de mais devo dizer que esta não é uma obra SÓ para gente nova. É um livro que pode e deve ser lido por todos aqueles que nunca leram e compreenderam totalmente esse marco histórico da literatura portuguesa e da própria história de Portugal, que é o poema épico de Luís de Camões.
Vasco Graça Moura consegue nesta obra algo tão admirável que é capaz de transformar o esforço de ler Os Lusíadas num permanente sorriso.
Como o próprio autor diz na introdução esta obra é vítima de um certo desprezo que o cidadão comum tem pelos clássicos e também pela dificuldade inegável que a obra apresenta para oi leitor comum. Acresce ainda a dificuldade que os professores sentem em lecionar o conteúdo da obra a alunos do ensino básico.
Vasco Garça Moura não reescreveu os Lusíadas mas conseguiu transportar toda a mensagem dos dez cantos numa estrutura igual à de Camões, em linguagem acessível e atrativa, mesclando as suas linhas com as do próprio Camões. Fornece assim um enquadramento atual, moderno, a uma obra que é vista como letra morta, ultrapassada pelo tempo. Pelo contrário, VGM transforma Os Lusíadas numa obra atual e acessível a todos.
Ao longo do livro revisitamos, assim, as narrativas épicas dos portugueses, centrada na viagem de Vasco da Gama à India, protegidos pela Deusa romana Vénus, deusa da beleza e do amor, sucessora de Afrodite. Pelo contrário, Baco, o deus do vinho e dos excessos é o inimigo dos lusos e tudo faz para os levar à desgraça. Mas o amor triunfa, e o Gama é levado até Melinde onde relata ao rei local os episódios mais épicos da história de Portugal. Entretanto, Baco recorre e Neptuno para tentar sempre “boicotar” como agora diríamos, a aventura dos portugueses. No entanto, o Bem haveria de triunfar, mau grado os Velhos do Restelo e os monstros de toda a sorte, como o famoso Adamastor.
É esta a mensagem maior deste escritor renascentista, herdeiro da história mas também dos tempos novos das Renascença, mal compreendidos naquele Portugal de preconceitos. Morreu pobre e incompreendido mas ficou para sempre como o portador de uma mensagem de esperança que a todos nós daria proveito se respondêssemos ao convite de VGM e tivéssemos a coragem de voltar ao eterno Camões.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ulisses - James Joyce



O ESTILO

Esposa e companheira de Adão Kadmon: Heva, Eva nua. Ela não teve embigo. Contempla. Ventre sem jaça, bojando-se ancho, broquel de velino reteso, não, alvicúmulo trítico, oriente e imortal, elevando-se de pereternidade em pereternidade. Matriz do pecado
Esta simples passagem (da tradução de António Houaiss na Difel) demonstra bem a dificuldade de tradução e de leitura desta obra. Não é por acaso que escasseiam as traduções e que este livro adquiriu a reputação de leitura difícil.
O monólogo interior é um técnica egocêntrica. Joyce escreve para ele mesmo, da mesma forma que as personagens "falam” para elas mesmas. O que se escreve são, muitas vezes, simples tópicos do raciocínio do narrador ou personagem. Esta técnica não deixa de exprimir um certo realismo: porque a nossa mente é livre, todos nós pensamos para nós próprios e só cada um de nós é capaz de entender corretamente os seus próprios pensamentos. Escrever como quem pensa, por vezes com frases e palavras inacabadas, é uma estratégia que contribui para o elevado grau de dificuldade na leitura deste livro. Outras palavras são mesmo inventadas, porque a mente não se submete a gramáticas nem acordos ortográficos. E também porque nenhuma gramática nem nenhum dicionário seriam capazes de conter todo o pensamento.
Por vezes a amálgama de pensamentos provoca um certo efeito humorístico quando, por exemplo, se misturam citações de Shakespeare com temas banais como o preço das maçãs. Mas é assim mesmo a nossa mente.
Também o formato da obra é complexo: cada capítulo tem o seu estilo, desde a representação teatral até a um inacreditável parágrafo de mais de 30 páginas de monólogo, narrado pela esposa infiel e boémia.
Para o leitor, a técnica narrativa do monólogo interior é algo monótona e até maçadora. Mas é assim o pensamento humano – quão maçador seria se qualquer um de nós escrevesse todos os pensamentos que lhe ocorrem! Os pensamentos de Bloom entrecruzam-se em diferentes sensações e interrompendo raciocínios, levando o leitor a becos sem saída como as ruas mais esconsas de Dublim. Uma narrativa por vezes surreal e a arte de bem escrever levam Joyce até uma espécie de barroco formal, radicalmente subjetivo. O leitor, muitas vezes perdido nestes devaneios formais, dá-se conta que a forma se sobrepõe muitas vezes ao conteúdo, transportando o livro para um colorido fogo de artifício.
O primado do pensamento está sempre patente: o padre Conmee, por exemplo, revelando um comportamento moral exemplar vai desenrolando pensamentos profundamente imorais, escandalosos, desmascarando todo o seu mundo interior.

O ENREDO

O Senhor Bloom vagueia pela cidade de Dublin como Ulisses no regresso da guerra de Troia. Odisseu (Ulisses na aceção latina) levara dez anos na sua viagem de Troia até Ítaca. Leopold Bloom leva dezoito horas desde a sua saída até ao regresso a casa; Ulisses deixara para trás a guerra de Tróia, onde se tornara herói, recorrendo ao famoso cavalo de madeira que dera a vitória aos atenienses; Bloom deixa para trás um périplo pela cidade onde comprou rins de porco para o pequeno-almoço da esposa, uma visita aos correios para levantar a carta da amante, uma visita ao jornal onde trabalha, um funeral, além de um passagem por um bar de onde é expulso e por um bordel onde apanha uma notável bebedeira.
Molly é Penélope. Mas enquanto a heroína grega é a esposa fiel que esperou Ulisses durante 20 anos, Molly é a esposa perversa, adúltera que termina o livro recordando aventuras obscenas.
O aspeto mundano, mesmo obsceno, da obra está patente por todo o livro; por exemplo, o funeral é visto como a cerimónia da pompa da morte, algo cerimonioso mas sem qualquer misticismo. A narração da cerimónia termina com reflexões mundanas de Bloom, algumas obscenas, outras cruéis, horripilantes. “Paz às suas cinzas”, exclama Hynes, amigo de Bloom – uma visão profundamente materialista da vida e da morte.
Joyce coloca na voz de cidadãos ébrios irlandeses uma série de juízos muito críticos em relação aos estrangeiros e particularmente aos judeus. Bloom é um dos visados, simplesmente por ser judeu. Esta xenofobia é uma das razões pelas quais o autor assumiu posições muito críticas em relação à sua pátria, não só por razões políticas e religiosas mas também por este obscurantismo.
À medida que o enredo progride vai-se acentuado o tom jocoso da crítica acérrima à igreja, ao mesmo tempo que a descrição de cenas boémias se vai adensando em linguagem obscena.
No auge da orgia, a narração assume um tom surrealista, com pormenores impensáveis, como a entrada em cena de Shakespeare, em diálogo com Bloom, Dedalus (que representa Telémaco, o filho de Ulisses) e as prostitutas.

O SIGNIFICADO HISTÓRICO DA OBRA

Joyce relativiza e distorce o tempo: a história humana reduzida à história do “eu”. Todo o cosmos se transformou numa espécie de micro cosmos, numa vida interior condensada em menos de vinte e quatro horas.
Trata-se de uma obra em que o espírito irlandês está bem patente: sobre um fundo de misticismo e religiosidade quase fanática, desenham-se vidas boémias e mesmo devassas.
Joyce consegue colocar em causa todos os padrões literários, artísticos e mesmo morais da época, obtendo uma brilhante simbiose entre dois polos bem afastados entre si: a cultura grega, com toda a sua mitologia, feita de heróis e lições de moral e, por outro lado, a arte bem irlandesa de beber até cair.
O primado do pensamento atinge o seu auge no capítulo final: Molly Bloom, uma Penélope devassa, carregada de um erotismo radical, exprime-se numa linguagem chocante e obscena. É o culminar de uma obra onde o classicismo é transportado para o mundo dos sentidos; talvez seja esse o valor maior desta obra tão marcante na literatura do século XX.
Todos nós encaramos o gregos antigos como criadores de mundos carregados de ideias solenes; os criadores da filosofia e de grandes epopeias. Mas este Ulisses é a expressão de um herói carnal, profundamente humano, carregado de instintos.
Penélope / Molly supera todas as fronteiras da moralidade burguesa da época em que Joyce escreveu (entre 1914 e 1921). Estamos perante uma Penélope feminista e libertária, a anunciar novos tempos.
Em conclusão: trata-se de uma obra difícil, muito complexa, tanto pelo estilo como pelas inúmeras referências (explicitas e implícitas) ao universo homérico. A Odisseia está por todo o lado e não é um leitor comum, como eu, que consegue identificar a maioria dessas relações. Por outro lado, Joyce escreve como quem pensa; como se escrevesse apenas para ele mesmo, obrigando o leitor a um esforço “homérico” para seguir os seus raciocínios.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Os Transparentes - Ondjaki



Sinopse:
Ondjaki, o escritor angolano já bem conhecido do público por obras como o assobiador (2002), quantas madrugadas tem a noite (2004), os da minha rua (2007), AvóDezanove e o segredo do soviético (2008), entre outros títulos, sempre colocou Angola, e em particular Luanda, de onde é natural, no centro da sua escrita.
Com o presente romance, de novo aparece Luanda - a Luanda atual do pós-guerra, das especificidades do seu regime democrático, do «progresso», dos grandes negócios, do «desenrasca» - como pano de fundo de uma história que é um prodígio da imaginação e um retrato social de uma riqueza surpreendente.
Combinando com rara mestria os registos lírico, humorístico e sarcástico, Os Transparentes dá vida a uma vasta galeria de personagens onde encontramos todos os grupos sociais, intercalando magníficos diálogos com sugestivas descrições da cidade degradada e moderna.



Comentário:
 Luanda em fogo: a destruição provocada pela ânsia capitalista. “A nossa vida está quase grelhada”, diz o cego que anseia por saber a cor do fogo e só a conhecerá na última frase do livro. Ele não sabe a cor do fogo porque o rapaz, o vendedor de conchas, não a sabe explicar. Terá de perguntar a uma criança. Eis o ponto de contacto entre este livro e as obras anteriores de Ondjaki: o fascínio pelas crianças, pelo ingénuo e sábio conhecimento infantil. Porque em outros aspetos, este livro marca um certo ponto de viragem na carreira literária deste autor angolano: é a emergência do desencanto, é a morte e o funeral da Ideologia. O desencanto perante o sonho socialista, vencido pelo poder económico.
De facto, este livro é marcado pelo olhar nostálgico sobre uma cidade vendida ao poder económico, à voracidade cega de um capitalismo desumano e descaradamente criminoso.
Embora cheia de humor, esta obra denuncia de forma aberta e direta a inacreditável tirania da corrupção e das ambições desmedidas dos lideres políticos e económicos de Angola: o livro começa e acaba com a destruição pelo fogo, provocada pela própria ambição da riqueza. Mau grado este aspeto cinzento, crítico, o humor é refinado, de cariz popular e exprime-se numa linguagem simples.
A corrupção está por todo o lado; mesmo funcionários menores aproveitam as benesses do poder para extorquir dinheiro aos mais desfavorecidos; assim devorados pela voracidade do sistema, aos pobres resta inventar meios de sobrevivência. Até as doenças, como uma descomunal hérnia de Edu, pode ser motivo para ganhar “algum”.
Na parte final do livro revela-se a explicação para o genial título da obra: os pobres não emagrecem; ficam transparentes: o corpo torna-se leve até não precisar de comer e a leveza do ser levará Odonato ao céu…
Um crítico literário cognominou Ondjaki de “ourives da língua portuguesa”. De facto, o escritor angolano lida com as palavras como se de filigrana se tratasse: com uma precisão esmerada e sem ornamentos inúteis.
Não há dúvida que estamos perante uma obra genial de Ondjaki: mais sóbrio que nas obras anteriores, embora mais pessimista. No entanto, no espírito de quem lê, fica um tom de fantasia a lembrar Saramago e uma certa magia na abordagem do ser humano que prevalece, pairando acima da corrupção, da desumanidade da classe política e da voracidade de capitalistas sem ética. Um retrato mordaz mas profundamente humano de Angola.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Mistério da Estrada de Sintra - Ramalho Ortigão, Eça de Queirós


Sinopse:
Naquele que é justamente considerado o primeiro romance policial português, conta-se a história de um médico que regressa de Sintra acompanhado por um amigo. A meio do caminho, ambos são raptados por um grupo de mascarados, que os levam para um prédio isolado onde aparecera um homem morto. A partir daí, os acontecimentos sucedem-se em catadupa. Quem é o morto e quem o matou? E porquê? Quem era a mulher com quem ele se encontrava, e quem são os mascarados que pretendem proteger a sua honra? A história foi publicada no Diário de Notícias entre Julho e Setembro de 1870 sob a forma de cartas anónimas, e foram muitos os que se assustaram com os acontecimentos narrados. Só no final é que Eça de Queirós e Ramalho Ortigão admitiram tratar-se de uma brincadeira e que eram eles os autores das cartas.

Comentário:
(no âmbito das leituras conjuntas do blogue Destante)


Uma paixão desmedida, uma mulher adultera, uma viagem num navio a vapor e, cereja em cima do bolo, um crime com requintes de absurdo e de mistério. Aqui estão os ingredientes para este Mistério da Estrada de Sintra, que será o primeiro livro de vulto publicado por Eça de Queirós, em parceria com Ramalho Ortigão com quem escreveria, a partir do ano seguinte (1871) essa obra genial que é As Farpas. O grande mestre da literatura portuguesa publicou este livro com apenas vinte e cinco anos. Talvez isto explique algum carater ingénuo que se “lê” nesta obra. Mesmo assim, é uma publicação histórica: trata-se da primeira narrativa policial da história da literatura portuguesa, talvez influenciado pelos contos de Edgar Allan Poe que Eça certamente leu. Por outro lado é nítida a influência da escrita realista francesa, nomeadamente de Flaubert, que Eça lia e admirava.

No entanto, parece óbvia uma certa vontade de ridicularizar a escrita romântica então em voga em Portugal, nomeadamente os grandes dramas do coração que redundam em tragédias “de faca e alguidar”. Ou seja: Eça e Ortigão conseguem criar uma obra histórica ao nível do romance policial e, ao mesmo tempo caricatura a realidade literária portuguesa daquele tempo.

Trata-se de um livro em que Eça revela já uma propensão nítida para a ironia e a sátira, caricaturando os costumes burgueses e da classe média lisboeta: o marido ausente e a mulher que, sem ocupações úteis, se expõe às tentações da carne. Assim, a protagonista, a condessa W. é uma espécie de mistura entre a Madame Bovary de Flaubert e o jovem Werther de Goethe: comete adultério mas acaba por cair na depressão do remorso, da culpa e vítima de si própria.

Em termos de estilo, estamos longe das páginas mais brilhantes de Eça de Queirós: as descrições são por vezes demasiado exaustivas e o ritmo narrativo é por vezes demasiado lento. No entanto, o livro vale pelo seu caráter pioneiro e pela crítica social que esta dupla de grandes escritores trariam à cena com as brilhantes “Farpas”.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Top 20 de 2012

Depois de tantos top's acho que faltava o meu.
Todos os anos digo que vou deixar de fazer isto, mas como sou homem de convicções fortes (not), aqui fica o meu, com a respetiva "nota" de 0 a 10.


1.       A Montanha Mágica – Thomas Mann 10
2.       1Q84 vol.1 - Haruki Murakami 9.6
3.       Servidão Humana - Somerset Maugham 9.6
4.       1Q84 vol.2 - Haruki Murakami 9.5
5.       1Q84 Vol. 3 - Haruki Murakami 9.5
6.       Liberdade ou Morte - Nikos Kazantzakis 9.4
7.       Até ao fim da Terra - David Grossman 9.3
8.       O Milagre de São Francisco - John Steinbeck 9.3
9.       1984 - George Orwell 9.2
10.   Os Três Mosqueteiros - Alexandre Dumas 9.2
11.   Húmus - Raúl Brandão 9.1
12.   Amor e Liberdade de Germana Pata-Roxa - Fernando Évora 9.1
13.   Ensaio sobre a Lucidez - José Saramago 9.1
14.   Crónica D'orelhudos - Luís Novais 9
15.   Pela estrada Fora - Jack Kerouac 9
16.   Gaibéus - Alves Redol 9
17.   A Confissão da Leoa - Mia Couto 9
18.   A Costa dos Murmúrios - Lídia Jorge 9
19.   A Sala de Vidro - Simon Mawer 8.8
20.   A República dos Corvos - José Cardoso Pires 8.8