quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O Primo Basílio - Eça de Queirós


Comentário:
Ler Eça de Queirós é diversão pura. Fosse ele inglês ou americano e seria um dos melhores do mundo. Este livro é, na minha opinião, um dos mais bem conseguidos de Eça, sem o “peso” de Os Maias, sem as descrições de A Cidade e as Serras, sem o volume de A Capital. 
Esta obra é a melhor ilustração daquele que é o verdadeiro traço distintivo do grande Eça: a crítica social. Aqui, cada personagem é um “cromo” típico do grupo que representa. O alvo mais evidente da crítica queirosiana é, neste livro, a burguesia, com o seu diletantismo, a sua ignorância e, acima de tudo, a sua ausência de ocupação efetiva que se nota mais no caso da mulher. Luísa é vítima da sua própria inação, da falta de ocupação, que a leva à procura de experiências, nomeadamente da aventura amorosa com o ex-namorado, Basílio. Este, por seu turno é o exemplo típico do diletante burguês: desocupado, vive de rendimentos. É insensível, não olha a meios para atingir os seus fins e é capaz de por em causa a felicidade de Luísa por mero capricho.
O Conselheiro Acácio é o protótipo do político inculto, com uma cultura superficial mas que exibe com pompa e vaidade. A sua hipocrisia está patente no facto de exibir uma moralidade conservadora ao mesmo tempo que mantém um caso amoroso com a criada.
Mas também a classe popular é criticada por Eça de Queirós: as pessoas da rua comentam de forma mordaz a vida de Luísa e as suas aventuras, com uma maledicência impiedosa. A própria criada, Juliana, é ambiciosa e coloca toda a maldade e egoísmo na ambição de enriquecer, mesmo que à custa da desgraça de outros.

O final do livro talvez seja mais romântico que realista; Eça não resiste a uma espécie de “dramalhão” que, a meu ver, destoa um pouco do clima divertido e leve do livro. Mesmo assim é um dos livros de leitura mais agradável que Eça escreveu e aquele em que é mais visível a sua crítica social, ou melhor dizendo, sátira social. Recomendado para todas as idades e todo o tipo de leitores.

Sinopse (in wook.pt):
Escrito em Inglaterra, O Primo Basílio, publicado em 1878, é um romance de costumes da média burguesia lisboeta e uma sátira moralizadora ao romanesco da sociedade da época.
Luísa é uma vítima das suas leituras negativas e da baixeza moral do primo, quando a ausência do marido a deixou entregue ao seu vazio interior. É uma vítima do ócio.
Eça sugere artisticamente os traços psicológicos das várias figuras da obra com os seus dramas, que de forma alguma enfraquecem o clima trágico, denso, do drama da heroína.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder


Comentário:
Sofia é a palavra grega para “sabedoria”; daí, penso eu, a escolha do nome da personagem principal. Este é, de facto, um livro sobre o saber. Mas é também um livro sobre a totalidade da alma humana; mais do que retalhos de emoções, pensamentos, ideias, perceções sensoriais, etc., nós somos um todo; uma totalidade.
Não é por acaso que este livro foi escolhido para o primeiro volume da épica coleção Grandes Narrativas, da Presença. E não é por acaso que estamos perante um campeão mundial de vendas.
A receita é muito simples: uma história da filosofia para principiantes, intercalada numa história de ficção. Mas não se iludam os adeptos do romance: a “estória” não é lá muito elaborada. Um filósofo escolhe uma miúda de 15 anos para lhe contar a história dos grandes filósofos e a parte ficcionada anda em torno desse misterioso contacto. O certo é que, na minha opinião, o livro vale muito mais pela parte filosófica do que pela ficção. Numa linguagem simples e até atrativa são percorridos os grandes momentos da filosofia, desde as explicações mitológicas do mundo pré-clássico até às grandes correntes do século XX como o existencialismo e o marxismo.
O facto de a componente ficcional não ser especialmente elaborada não impede que cumpra em pleno a sua principal função: a de mostrar que para lá das querelas históricas entre empiristas e racionalistas, entre existencialistas e idealistas, entre platónicos e aristotélicos, há uma componente na alma humana que nunca se pode negligenciar: a capacidade de fantasiar. Podemos ser inteligentes, sensíveis, emocionais ou idealistas; mas temos sempre a imaginação e a capacidade de sonhar; é essa, a meu ver, a grande lição de Sofia.
Em conclusão, trata-se de uma obra que todos os que gostam de livros devem ler; e guardar bem perto para consulta quando a dúvida surgir sobre Hume, Espinosa, Platão, Marx, Sartre ou qualquer outro grande nome da filosofia.


Sinopse (in wook.pt):
O bestseller mundial, «O Mundo de Sofia», é a prova de que Demócrito, Aristoteles, Kant, Espinosa, Freud e os outros são fabulosos personagens romanescos. Um thriller filosófico à boa maneira, com a vantagem de possuir uma elegante e inexcedível clareza. «O Mundo de Sofia» de Jostein Gaarder é um sucesso literário só comparável ao «Nome da Rosa» de Umberto Eco.