quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Já não se escrevem cartas de amor - Mário Zambujal


Comentário:
Em primeiro lugar, destaque para a capa (dura e belíssima) desta magnífica edição da Esfera do Livro, já com alguns anos. Trata-se de uma edição de luxo, que Zambujal bem merece. Na verdade este livro é mais uma confirmação da excelência da sua prosa. Tal como noutras obras suas já incluídas neste blogue, também neste livro Mário Zambujal nos presenteia com uma escrita leve, fluida, económica e objetiva. Aqui não há lugar para divagações nem descrições supérfluas. Este estilo é próprio de algum que foi (ou é?) um jornalista de excelência.
A ação decorre nos anos 50, o que dá ao livro um tom saudosista mas descontraído, sem a pieguice da saudade melancólica que por vezes tanto afeta os nossos escritores. O que Zambujal relembra é o encanto de um tempo sem televisão, sem telemóveis, em que os encontros eram marcados com antecedência e em que os serões eram passados em conversa e convivência com os amigos, em vez da televisão. E depois havia os cafés e clubes noturnos; as distrações de uma juventude que, imagine-se, apreciava fado. Na verdade, o fado era mais sinónimo de boémia do que de saudosismo piegas.
Por outro lado, estamos nos anos “de ouro” da PIDE, dos bufos disfarçados em qualquer esquina, dos rufiões cobardes que cometiam crimes em nome da lei, da censura que mantinha o povo calado e ignorante e tudo o mais que caraterizava a peculiar ditadura de Salazar.
Ah, e para quem aprecia, é uma bela história de amor, com um final muito interessante.
Em suma, tal como acontece com qualquer livro de Zambujal, também este constitui uma leitura leve e divertida. No entanto, escrita leve não significa leveza de ideias; pelo contrário, é um belo testemunho daquela época numa Lisboa boémia que sobrevivia à ditadura.

Sinopse: (in wook.pt):
Duarte é um jovem bon vivant, que, entre as noites glamorosas passadas no Grande Casino Internacional do Estoril, as tardes de café no Chave D’Ouro, no Palladium ou no Martinho do Rossio e a vida boémia nas boîtes da capital, vê o seu coração ser arrebatado por uma jovem alta, esguia, loura e de sorriso luminoso, de nome Erika. Mário Zambujal transporta-nos, nesta novela de prosa clara e original, pautada de humor, imaginação e sensibilidade, numa viagem de imagens e memórias, à Lisboa dos anos 50. Uma época de apetites e excessos. De paixões e desventuras. Era um tempo em que havia tempo. Até se escreviam cartas de amor.

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